A COR DA TERRA (Chiapas-Oaxaca) Mexico, 2001
autor: Txomin  Txueka exposição individual

A COR DA TERRA (Chiapas-Oaxaca)

Mexico, 2001

Falar sobre a cor no caso de fotografias a preto e branco pode parecer um pouco estranho. No entanto, foi isso o que o fotógrafo basco quis fazer na sua reportagem "A Cor da Terra" sobre a região de Chiapas no México. Ele dedicou as suas fotografias aos fugitivos e aos que lutam pela liberdade. De facto, estas pessoas dão alguma "cor" ao seu país, um atributo que está longe de ser removido de qualquer noção romântica que se possa ter sobre o México.

Não, nem tem nada a ver com o facto deste fotógrafo ser de origem basca. Txomin Txueka, que nasceu em 1960 na Getaria, é peremptório ao sublinhar a sua neutralidade como fotógrafo: "Eu acredito que estas fotografias reflectem a dura realidade da injustiça provocada pelos lobbies políticos". Txomin Txueka trabalha como freelance, geralmente para jornais bascos. Pode ser frequentemente encontrado nos locais onde as desigualdades são particularmente gritantes, por exemplo, na Bolívia ou em acampamentos de refugiados palestinos.

Em Março 2001, visitou finalmente o estado mexicano de Chiapas. Ali fotografou vítimas indígenas das tropas paramilitares, prisioneiros zapatistas, e o secreto quartel general do exército EZLN (Ejército Zapatista de Liberación Nacional). Estas fotografias representam documentos da ferida aberta na política mexicana, um conflito que está em lenta combustão desde 1994. Nessa altura, o EZLN ocupou diversas cidades em Chiapas. Uma batalha contra as tropas do governo durou douze dias e, de acordo com alguns relatórios, entre 150 a 400 pessoas perderam as suas vidas. O objectivo do EZLN era, e é ainda, obter melhores condições de vida e a autonomia regional para as populações indígenas. Os influentes latifundiários controlam a região, e corrompem as autoridades, enquanto os seus homens atacam o EZLN e os seus apoaintes sempre que seja possível. Foi o que aconteceu em Acteal. O fundamento deste massacre nunca foi esclarecido, porque existe pouca motivação oficial para perseguir os assassínos. Quarenta polícias, que estavam por perto, recusaram intervir quando sessenta homens entraram na igreja em Acteal no dia 22 de Dezembro de 1997, fazendo 45 mortos entre os indígenas, na sua maioria mulheres e crianças.

As fotografias de Txomin Txueka dão a estas vítimas uma "cara". Como fotógrafo auto-didacta, não interfere nas situações e renuncía a qualquer destino falso. Os seus assuntos são bem definidos, mas perfeitamente calmos. Tem trabalhado como fotojornalista desde 1985 e adquiriu, entretanto, um estilo contra o sensacionalismo mas envolvido. Acteal foi uma visão terrível, mas provou ser um ponto viragem. A longo prazo, o EZLN ganhou realmente a batalha, pelo menos no que diz respeito à opinião pública. Cada vez mais mexicanos apoiam novos direitos para os indígenas. O EZLN compreendeu de certeza como ganhar o apoio do público mundial para os seus objectivos. Desde que o presidente Vicente Fox foi eleito em 2000, um vento novo sopra no México. Este é pessoalmente a favor da auto-administração para os indígenas mexicanos e quer conceder-lhes direitos de minoria. No entanto, o partido conservador a que pertence não está de acordo.

De qualquer modo, o EZLN ganhou recentemente duas grandes vitórias. Os seus representantes foram ouvidos uma vez no parlamento, e foi concedida uma amnistia a muitos prisioneiros. No entanto, o optimismo estaria aqui deslocado, pois a maioria dos indígenas ainda andam a monte. Como este vôo os marcou pode ser observado nas fotografias de Txueka. Algumas destas caras marcadas escondem-se atrás de máscaras. Apenas se conseguem vislumbraros olhos que espreitam através das pequenas fendas. São estes olhos que dão ao México as suas cores mais tristes.

Text © MATTHIAS KAUFMANN
(LEICA Fotografie International Magazine, 8/2001)

Tradução: SOFIA QUINTAS