Cityscapes
autor: Cláudio Edinger
título: Madison Avenue exposição individual

Cityscapes

Há pouco mais de meio século E. B. White abria seu insuperado "Here is New York" asseverando que em nenhuma capital do mundo era possível mergulhar mais fundo no anonimato e na solidão. Greta Garbo não demoraria a tornar-se a prova mítica - e definitiva - do paradoxo de White.

As fotos de Cláudio Edinger emprestam-lhe agora imagens de raro encantamento. Nova York, e mais precisamente Manhattan, talvez seja a metrópole mais fotografada do mundo. Não falo de artistas como Edinger mas dos milhões de cliques diários pelos turistas e habitantes da capital cultural do planeta nesta virada de século.

Obter imagens novaiorquinas com impacto e frescor é assim um desafio com raros vitoriosos contemporâneos. Este livro reúne uma dessas excepções.

Edinger voltou sua lente tanto para ruas sem carisma quanto para marcos transformados em logotipos manhattianos, da Estátua da Liberdade ao Central Park e à Grand Central Station. O efeito de estranheza acompanha todas as imagens deste livro. O incomum parece aqui captável a cada esquina.

Nos anos 70, antes de sua maior temporada como habitante novaiorquino, Edinger já havia devassado - e reforçado - o mito de outro marco da cidade, o Chelsea Hotel. Naquele livro revelava-se um fotógrafo ensaísta. O método Edinger começava a construir-se "um lugar e suas pessoas iluminam-se mutuamente, em imagens de estudada arquitetura." Uma década depois, ainda nos EUA, o foco mudava para Venice Beach, Los Angeles. Algum tempo depois, foi a vez do hospício do Juqueri que Edinger devolveu ao mundo como um misto entre Bosch e Walker Evans.

Em "Cityscapes" a obra de Edinger conhece nova evolução. Não surpreende que tenha se expandido o tempo exigido para o desenvolvimento do ensaio. Edinger tinha que depurar os próprios olhos das imagens-cliché de Manhattan, liberar o eterno estranho que todo imigrante novaiorquino sempre será, para permitir-se recriar a partir de uma paisagem por demais banalizada.

Nova York é a protagonista da série, mas os personagens de cada foto são muito mais que coadjuvantes. Edinger é cada um deles. São todos novaiorquinos adotivos, provisória ou definitivamente, sejam turistas ou moradores, irmanados na mesma multidão solitária.

O rigor formal de cada foto equipara achados instantâneos e poses estudadamente compostas. É o resultado de décadas de depuração das experiências como repórter e retratista, de um olho treinado para registrar o eterno do imediato.

As fotos deste livro não parecem simplesmente criadas por Cláudio Edinger. Na verdade, é como se já existissem em algum lugar, inacessíveis até aqui ao olho humano, e agora tivessem sido apenas tornadas visíveis, em plena riqueza de luzes, cores e sombras, pela lente do fotógrafo. Mais que outro livro sobre Manhattan, enquanto contemplamos as próximas páginas é a todo um novo e ampliado mundo que estamos expostos. Edingerland, bem-vindos, é aqui.

Texto: Amir Labaki (diretor do Museu da Imagem e Som de São Paulo)