Cabo Verde - As ilhas amigas
autor: Luis Filipe Catarino autor convidado

Cabo Verde - As ilhas amigas

Foi com grande alegria e interesse que, quando se decidiu na ?Volta ao Mundo? fazer uma reportagem de capa sobre Cabo Verde, eu e o meu amigo Paulo Rolão começámos a vasculhar as prateleiras das livrarias e páginas na internet. Para nossa surpresa não havia quase nada sobre o assunto. Estávamos em 2002.

Os quinze dias que lá passámos foram inesquecíveis e, a reportagem que fizémos sobre seis das nove ilhas habitadas, tornou-se um ícone daquela fase na revista. Fizémos um pequeno guia prático, que durante algum tempo, foi a única coisa que vi que se assemelhasse a um guia de viagem.

E fizémos amigos. Em Cabo Verde é tão fácil fazer amigos! A ?cachupa frita? numa discoteca deserta com o Adriano e o Cipriano, falando de literatura e de música, de emigração e de experiências de vida, será para sempre uma imagem que só existirá nas nossas almas.

As surpresas sucederam-se: O mar e o deserto na Boavista; a intensidade do Tarrafal e de uma tertúlia com direito a actuação do Ildo Lobo (e o encantamento de uns olhos verdes) em Santiago; os pés massacrados mas a pedirem mais na caminhada no Vale do Paúl em Santo Antão; a moreia frita de Salamansa em São Vicente e o peixe-serra do Sal; e o Fogo.

O Fogo. A minha ilha. A curva da estrada que sem avisar nos faz entrar a Lua que é o vulcão pelos olhos. A cidade improvável de São Filipe a descer pela encosta e a acabar na falésia.

Quatro anos depois voltei, de novo com um grande amigo, o Guedes. Três semanas e sete ilhas. Juntei mais duas à colecção e uma à frustração. O Maio e a Brava foram novas descobertas e, talvez também sejam aquelas em que poucos se aventuram. Principalmente a longínqua Brava, ali mesmo ao lado do Fogo, mas que o mar de canal e os ventos cruzados apartam de quem lá quer ir e de quem de lá precisa de saír. Mas nós fomos, e fomos bravos. Porque só os bravos lá vão e porque só os Bravos lá vivem.

Só me falta ir a São Nicolau para fazer o pleno e matar a frustração. E como diz a Cesária, até já sinto ?sodade desse nha terra di São Niclau?