Ruben Circus
O escurecer dos recantos atrás do pano. Sobra uma mão cheia para o ensaio fora de tempo. Gritam os homens. Gritam os acrobatas. Gritam as grades de aço e os leões amordaçados. A corda estala no vazio das luzes. Grita o dono. Apenas ele sobrepõe a palavra. A cena passa rapidamente a outra. Muda o palco. Mudam as máquinas. Mudam as palavras e os gritos esticados. A música fica por trás de tudo o resto. Incerta, desalinhada, fora de tempo. Como os cabelos ainda fora de sítio. E os palhaços por aparecer. São ainda homens os que ensaiam a peça. Decoram as palavras e o silêncio entre elas.
Lá fora o dia foge. A bilheteira enche de brilho os olhos das crianças. Irrequietam-se à volta da fila de pais. Já ouvem os leões. E querem vê-los. Querem vê-los abrir as grandes bocas. E os mágicos que serram corpos. E os palhaços que brincam com eles.
Cala-se o burburinho, silenciam-se a luzes. O espectáculo vai começar.
Abre um foco.
Texto: paulo rodrigues